Basta por Cláudio Lembo

Republico o excelento textodo Terra de autoria do Professor e politico Claudio Lembo:

Basta!Cláudio Lembo
De São Paulo

Ver de novo. Sempre ver de novo o antigo espetáculo. Satura. Cansa. Enerva. O cenário muda. As personalidades se alteram. Os acontecimentos possuem outros contornos.

O conteúdo é sempre o mesmo: corrupção. Na vida pública, este triste ato de se apossar do que é dos outros. Bens que pertencem ao público agregados a patrimônios particulares.

O corrupto é aquele que está podre. Degenerado. Perdeu-se moralmente. Perverte os valores morais. É o venal, excrescência no interior da sociedade. Figura indigna de conviver com os demais.

O corrupto, sob diferentes mantos, persegue a cronologia brasileira. Desde a chegada dos colonizadores, ele está presente. As técnicas podem se diferenciar. O conteúdo o mesmo de sempre.

Levar vantagem em tudo. Começou em 1500 com ato puro de nepotismo. Escrivão da armada, o conhecido Pero Vaz de Caminha pede em favor de seu genro. Uma simples transferência para a Corte.

Não se sabe se o rei Manoel atendeu. Pelo sim ou pelo não, presume-se que foi atendido. O mal habito começou. Ampliou-se. Hoje, netos e namorados de netas já obtêm benefícios.

Em épocas diferentes, a corrupção sofreu combates de personalidades destemidas. Gregório de Matos, o irônico baiano, combateu com sarcasmo os costumes de seu tempo.

Foi degredado para África. Voltou. Encontrou tudo igual. Novas críticas e novas penas. Foi afastado de todos os cargos que exercia. Perdeu mulher e fortuna.

Em Minas Gerais da época do ouro, anônimos levantaram-se contra um governador corrupto das Gerais. O Fanfarrão Nemésio concedeu aos amigos favores. Foi execrado. Permaneceu.

Ainda na colônia, um jesuíta, apesar das dúvidas de autoria, ergueu-se forte contra a corrupção generalizada por todo o Brasil e acentuada no Maranhão e na Bahia.

Acabou respondendo perante o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. Sofreu. Defendeu-se, mas perdeu todas as honrarias que conquistara. Padre Antonio Viera é a personalidade que se ergueu contra os poderosos.

Não se deu bem. Assim por todos os ciclos da História pátria a degeneração dos costumes superou a luta pela dignidade no trato da coisa pública.

Tornou-se corriqueiro o explodir de escândalos. Agora, a fala de figuras agressivas nos meios contemporâneos de comunicação. A essência, contudo, continua semelhante aos dos tempos coloniais.

A falta de caráter dos dirigentes públicos. Antes furtavam para amealhar patrimônio, agora se apropriam dos bens públicos com dois objetos: o de sempre, agregar patrimônio e concretizar campanhas eleitorais.

As campanhas eleitorais endoidecem os administradores públicos, particularmente após a instituição da reeleição. No exercício de seus altos cargos no executivo, as pessoas perdem o siso.

Enlouquecem. Só pensam em permanecer. Deixar o Poder? Nem pensar. O mais honesto dos mortais torna-se um perigoso facínora, um corrupto. É só observar, os grandes desmazelos ocorrem em períodos eleitorais.

Em anos de realização de pleitos ou naqueles que os precedem, explodem escândalos cada vez mais vulgares. Vai se caindo na escala da imoralidade. Os costumes em franca degenerescência.

Gritam os meios de comunicação. Falam as pessoas entre si. Os comentários apresentam-se amargos. Não poupam nenhum partido. Nenhuma personalidade.

Os políticos, que deveriam realizar o bem público, passam a merecer o desprezo da comunidade. Sofrem. Sentem-se desamparados, inclusive os bons e sérios.

Ora, esta situação não pode continuar. Só resta - em emergência - buscar uma saída. Enquanto não houver revisão moral profunda, que deverá ocorrer irreversivelmente, a sociedade deve se lançar em uma Reforma.

A Reforma Política é indispensável. Novos institutos, mais severas penalidades precisam ser elaboradas. Os atos desonestos são fatais para a sociedade. Oferecem péssimo exemplo para a cidadania.


Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.

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