Muita calma nessa hora
Muita calma nessa hora
DE NOVA YORK - Uma pergunta:
O que mudou desde setembro, quando o banco Lehman Brothers quebrou e os mercados financeiros internacionais tiveram o maior colapso desde os anos 1930? Muita coisa, e para pior.
Pelo menos mais de 2,5 milhões de pessoas perderam seus empregos nos EUA, além de outros milhões em dezenas de economias. Empresas fecharam, outros milhões ficaram sem suas casas, o nível de atividade encolheu e, acima de tudo, a humanidade ficou mais pobre.
E mais previdente. O que já se reflete, por exemplo, na taxa de poupança dos norte-americanos, que vem crescendo rapidamente diante do cenário de mais desemprego e incertezas. Mais poupança significa menos gastos.
Já os bancos, continuam na mesma: entupidos com os ativos tóxicos que originalmente detonaram essa crise. Eles continuam lá, no mesmo lugar, segurando o mercado de crédito.
Só o gigante Bank of America vai precisar de mais US$ 35 bilhões no curto prazo para continuar viável, sendo que o banco já recebeu US$ 45 bilhões em capital do Tesouro dos EUA.
Um exemplo das consequências reais disso:
Companhias gigantescas nos EUA como Hewlett-Packard e Verizon antes conseguiam linhas de crédito de mais de US$ 5 bilhões por quase três anos seguidos e com juros de 0,2% sobre a taxa Libor (que serve de parâmetro internacional). Agora, estão sendo obrigadas a tomar valores iguais por apenas 365 dias e pagando até 2% sobre a Libor.
Isso significa mais custo, incertezas e aperto.
Claro que houve também algumas notícias positivas, mas todas provocadas artificialmente: os governos lançaram pacotes trilionários de estímulo, baixaram juros ao nível do chão e estão injetando liquidez como nunca na economia internacional para aliviar corretamente os efeitos da crise.
Mas não parece razoável ou sustentável a atual euforia dos mercados financeiros, que já ensaiam uma recuperação se não ao nível pré-crise, na direção dele. Aliás, é bom frisar, muitos dos resultados menos ruins do que os esperados em várias empresas só ocorreram porque elas cortaram custos (pessoal e produção), e não porque os negócios melhoraram.
O preço da ação de uma empresa reflete nada menos do que a expectativa de ganho dessa mesma empresa. Se ela tiver um futuro promissor, o preço vai subir. Caso contrário, cai. O que os mercados estão nos dizendo agora é que o futuro é promissor, e que está ficando cada vez mais promissor.
Quando os mercados subiam rapidamente, a expectativa era de um planeta crescendo entre 2% e 3% ao ano. Agora, estamos falando de um encolhimento da mesma magnitude.
Obviamente, um dia sairemos da atual crise, mas não tão rápido.
Todos esses milhões que perderam seus empregos (e que gastavam mais fartamente antes da crise) terão de voltar a encontrar trabalho. As milhares de lojas que fecharam terão de reabrir para fazer pedidos às fábricas. Os que perderam suas casas, terão de encontrar outros meios, e por aí vai.
É ótimo que o humor esteja mudando.
Mas, nessas horas, excesso de otimismo pode ser potencialmente muito triste.
Fernando Canzian, 42, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.
DE NOVA YORK - Uma pergunta:
O que mudou desde setembro, quando o banco Lehman Brothers quebrou e os mercados financeiros internacionais tiveram o maior colapso desde os anos 1930? Muita coisa, e para pior.
Pelo menos mais de 2,5 milhões de pessoas perderam seus empregos nos EUA, além de outros milhões em dezenas de economias. Empresas fecharam, outros milhões ficaram sem suas casas, o nível de atividade encolheu e, acima de tudo, a humanidade ficou mais pobre.
E mais previdente. O que já se reflete, por exemplo, na taxa de poupança dos norte-americanos, que vem crescendo rapidamente diante do cenário de mais desemprego e incertezas. Mais poupança significa menos gastos.
Já os bancos, continuam na mesma: entupidos com os ativos tóxicos que originalmente detonaram essa crise. Eles continuam lá, no mesmo lugar, segurando o mercado de crédito.
Só o gigante Bank of America vai precisar de mais US$ 35 bilhões no curto prazo para continuar viável, sendo que o banco já recebeu US$ 45 bilhões em capital do Tesouro dos EUA.
Um exemplo das consequências reais disso:
Companhias gigantescas nos EUA como Hewlett-Packard e Verizon antes conseguiam linhas de crédito de mais de US$ 5 bilhões por quase três anos seguidos e com juros de 0,2% sobre a taxa Libor (que serve de parâmetro internacional). Agora, estão sendo obrigadas a tomar valores iguais por apenas 365 dias e pagando até 2% sobre a Libor.
Isso significa mais custo, incertezas e aperto.
Claro que houve também algumas notícias positivas, mas todas provocadas artificialmente: os governos lançaram pacotes trilionários de estímulo, baixaram juros ao nível do chão e estão injetando liquidez como nunca na economia internacional para aliviar corretamente os efeitos da crise.
Mas não parece razoável ou sustentável a atual euforia dos mercados financeiros, que já ensaiam uma recuperação se não ao nível pré-crise, na direção dele. Aliás, é bom frisar, muitos dos resultados menos ruins do que os esperados em várias empresas só ocorreram porque elas cortaram custos (pessoal e produção), e não porque os negócios melhoraram.
O preço da ação de uma empresa reflete nada menos do que a expectativa de ganho dessa mesma empresa. Se ela tiver um futuro promissor, o preço vai subir. Caso contrário, cai. O que os mercados estão nos dizendo agora é que o futuro é promissor, e que está ficando cada vez mais promissor.
Quando os mercados subiam rapidamente, a expectativa era de um planeta crescendo entre 2% e 3% ao ano. Agora, estamos falando de um encolhimento da mesma magnitude.
Obviamente, um dia sairemos da atual crise, mas não tão rápido.
Todos esses milhões que perderam seus empregos (e que gastavam mais fartamente antes da crise) terão de voltar a encontrar trabalho. As milhares de lojas que fecharam terão de reabrir para fazer pedidos às fábricas. Os que perderam suas casas, terão de encontrar outros meios, e por aí vai.
É ótimo que o humor esteja mudando.
Mas, nessas horas, excesso de otimismo pode ser potencialmente muito triste.
Fernando Canzian, 42, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.
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