O QUE ESTÁ POR TRÁS DA ÊNFASE NAS OBRAS AO INVÉS DO FOCO NAS PESSOAS ?
Ao longo da
nossa história, o povo brasileiro tem associado boa gestão à realização de
obras de engenharia, as famosas “obras de pedra e cal”, gerando uma distorção
na avaliação da qualidade dos gestores públicos de uma forma geral. Quanto
maior a obra, maior a sua visibilidade, sendo maior a possibilidade de o gestor autor da
obra ser rotulado como um bom administrador público.
Esse erro de
avaliação faz com que nossos gestores fiquem buscando sempre a próxima obra que
vai impressionar o seu eleitorado sem terem a preocupação com a real serventia
da obra ou com a famosa relação custo/benefício tão visada quando se fala de
investimentos feitos pela iniciativa privada.
Recentemente, a
nível nacional, quase embarcamos em um projeto megalomaníaco da turma do PT que
pretendia construir um “trem bala” ligando o Rio de Janeiro a São Paulo com
orçamento inicial previsto em trinta e três bilhões de reais. Observe-se que,
em termos de Brasil, os orçamentos nunca são respeitados, podendo ser estimada
essa obra em mais de cinquenta bilhões de reais. Imaginemos o que poderia ser
feito com esse volume de recursos investido na melhoria da saúde pública ou na
educação.
Localmente,
podemos citar a construção daquele anexo da Estação Ciência, no Altiplano, a um
custo de cerca de vinte milhões, como uma das obras carimbadas como “elefante
branco”.
Outro aspecto histórico
dessa priorização das obras ao invés de investimentos na qualidade dos serviços
públicos é a possibilidade do “retorno” de um percentual da obra para os gestores
públicos. Uma brecha na Lei 8666/93 (Lei das Licitações) permite facilmente que
o orçamento inicial seja ampliado em vinte e cinco por cento do seu valor,
sendo muito comum o uso desse artifício para aumentar o valor inicial da obra.
Nos escândalos recentes envolvendo a Petrobrás, um dos problemas é o
superfaturamento na obra da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, o que teria gerado
prejuízos milionários para os cofres públicos.
Dificilmente
nessas avaliações sobre a qualidade da gestão pública entram discussões sobre a
qualidade do atendimento no serviço público, melhorias na saúde da população,
redução dos índices de criminalidade ou maior aprendizagem dos alunos nas
escolas públicas.
Por essas e
outras, é chegada a hora de estarmos mais atentos a essas obras de necessidade
duvidosa que saem do nosso bolso. O foco tem que ser nas pessoas e não no velho
lema do Ademar de Barros baseado na política do “Rouba, mas faz”.
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